Proposta de Lula para guerra entre Rússia e Ucrânia tem apoio de organização premiada com Nobel da Paz

Natália de Oliveira Ramos
3 min readFeb 10, 2023
Oleksandra Romantsova, da Center for Civil Liberties; Aleksander Cherkasov, da organização russa Memorial; e Natalia Satsunkevich, da Viasna Human Rights

Natália de Oliveira Ramos
de Madri, na Espanha

A proposta de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de criar um grupo de países para negociar o fim da Guerra da Ucrânia, que completa um ano no próximo dia 24, tem respaldo da organização ucraniana Centro para as Liberdades Civis, que está entre as três iniciativas premiadas com o Nobel da Paz no ano passado.

A intenção do governo brasileiro foi posta à mesa na segunda-feira, em Brasília, depois da negativa de Lula ao pedido do chanceler alemão Olaf Scholz para que o Brasil fornecesse munição de tanques que seria repassada por Berlim à Ucrânia contra a Rússia.

A diretora executiva da CLC, Oleksandra Romantsova, participou de um encontro organizado por entidades humanitárias da Espanha na terça-feira (31), em Madri, onde pontuou algumas prioridades caso a possível cooperação internacional nos moldes do G20, como sugeriu Lula, seja efetivada.

Um comitê com representantes das três iniciativas que receberam o Nobel da Paz em outubro passado esteve em Barcelona e Madri para encontros sobre propostas e vivências concretas para promoção da paz.

Frente à possibilidade de que o conflito se estenda a outras regiões, ela chama a atenção para a insuficiência dos mecanismos internacionais de segurança para afrontar uma potencial mundial — com a Rússia, que tem o segundo maior exército do mundo — caso haja violação à soberania de outros Estados.

Também avaliou que o êxito da “cúpula da paz” dependerá de ações para além da retomada do território ucraniano. A ativista explicou que o capital russo, procedente da venda de gás natural e petróleo, é usado para comprar mísseis do Irã, gerando uma política de violência e violação de direitos humanos.

Por esse motivo, disse ela, é fundamental que o presidente russo Vladimir Putin perca poderio econômico ao passo que a “cúpula da paz” viabilize acordos entre Ucrânia e o mercado internacional.

Assim como a Rússia, a Ucrânia é um relevante exportador de produtos básicos como o trigo e cereais, petróleo, gás natural, além de carvão e metais preciosos. A guerra afetou tanto a produção interna como as cadeias de distribuição cruciais para o resto do mundo.

No ano passado, em resposta à agressão militar, a União Europeia impôs uma série de sanções contra a Rússia. O Brasil manteve neutralidade. No mesmo encontro com o chanceler alemão esta semana, Lula reconheceu que a invasão foi ilegal, mas não eximiu a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) de sua parcela de culpa.

Romantsova salientou que Putin não pode ser considerado um bom parceiro econômico para países democráticos, pois, segundo ela, o presidente russo usa o dinheiro contra a sociedade civil, gerando políticas de violência. Daí a relevância da criação de um grupo de países para negociar o fim da guerra.

O conflito é a maior guerra terrestre na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939–1945). As Nações Unidas estimam que mais de 18 milhões de pessoas necessitam de ajuda humanitária na Ucrânia; 8 milhões estão refugiados na Europa e 6 milhões tiveram que abandonar suas casas, mas continuam em território ucraniano.

Passagem dos nobéis pela Espanha

Um comitê com representantes das três iniciativas que receberam o Nobel da Paz em outubro passado esteve em Barcelona e Madri para encontros sobre propostas e vivências concretas para promoção da paz.

Além do Centro para as Liberdades Civis, representada por Oleksandra Romantsova, também estiveram presentes Aleksander Cherkasov, da organização russa Memorial, e Natalia Satsunkevich, da Viasna Human Rights, representando Ales Bialiatski, um ativista bielorrusso que está preso acusado de conspirar contra o regime de Alexander Lukashenko.

De acordo com o Comitê Norueguês do Nobel, os três destacados defensores dos direitos humanos, da democracia e da coexistência pacífica nos países vizinhos Bielorrússia, Rússia e Ucrânia emergiram como alguns dos maiores opositores à desinformação generalizada e fizeram um esforço notável para documentar crimes de guerra, abusos de direitos humanos e abuso de poder.

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Natália de Oliveira Ramos
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Brazilian Journalist based in Spain/ Enthusiast of New Narratives about Latin America & Human Rights. Lived in Ireland and the Netherlands